Especial: O polêmico "Quarto Branco" do BBB 9
Big Brother Brasil já teve outro Leo
TV explora limites humanos


Você ficaria confinado em uma casa durante três meses, longe da família, dos amigos, alienado do que está se passando no mundo, sem relógio, e, o pior, sem privacidade? A maioria das pessoas responderia sem dúvida que não, se não fosse um pequeno detalhe. Um não, dois. Fama instantânea e R$ 1 milhão. Mas será que tanto sacrifício vale?
O programa Big Brother Brasil 9 levantou essa questão nesta semana, quando o participante Leonardo, confinado no temido "Quarto Branco", não agüentou a pressão psicológica e desistiu do jogo.
Por ordem do "Big Fone", Leonardo, Ralf e Newton foram obrigados a permanecer em uma sala branca, semelhante à de um hospício, de domingo até o paredão de terça-feira. Os três tinham uma única chance de escapar do castigo: Alexandre, indicado por eles, teria de ser eliminado do programa.
Alexandre saiu. Mas Leonardo também. Ele foi eliminado do BBB após quase 18 horas preso. O participante já havia entrado fragilizado no teste. Durante a semana, Leo tinha perguntado à produção do programa como deveria agir caso quisesse desistir do jogo. O "Quarto Branco" foi o limite.
E a "brincadeira" ganhou proporções ainda maiores. A Ouvidoria do Ministério Público Estadual recebeu denúncias que pedem a investigação sobre tortura do teste. Segundo divulgou o jornal "O Dia", a ouvidoria do órgão irá analisar os pedidos para ver se há necessidade de instaurar um inquérito.
Em contrapartida, a Central Globo de Produções afirmou, por meio de nota, que o "Quarto Branco" é uma das "dinâmicas do jogo", e a "TV Globo toma todos os cuidados com a integridade de seus participantes".
Logo após sua saída na casa, Leo participou de uma breve entrevista com Pedro Bial ao vivo no estúdio do programa. "Só quem está lá dentro (do "Quarto Branco") sabe. Para mim, ficar aprisionado dentro do quarto, sem ver a luz do dia, ficar dentro de um cubículo, com dois jogadores fazendo pressão psicológica, foi demais", disse.
Audiência
Mas por que tanto sofrimento dá tanta audiência? Segundo o psicólogo Bruno Sini Scarpato, especialista em Psicologia da Saúde pela Escola Paulista de Medicina (EPM-UNIFESP) e Mestrando em Psiquiatria pela mesma escola, "as pessoas querem ver por conta da curiosidade pelo mórbido, que é natural do ser humano. Até mesmo crianças têm essa curiosidade: algumas são vingativas, agressivas. Isso é normal."
Outro lado que o psicólogo cita é a questão do real. "Acho que toda história, seja filme, novela ou romance literário, procura aproximar a realidade externa e interna do indivíduo. Não basta eu criar algo que represente aquilo que passa dentro das pessoas se eu não inseri-lo em seu cotidiano. O BBB mostra pessoas vivendo juntas, se relacionando, e isso é algo que fazemos todos os dias. O grande fator nesse caso é a transmissão ao vivo, faz com que pareça algo autêntico, real para qualquer um", disse.
O profissional acredita que a questão da curiosidade pelo real se aplica em qualquer reality show, até nos de objetivo corporativo, como "O Aprendiz", como nos de resistência, como era o caso de "No Limite". "As pessoas querem se provar e provar o outro. Elas têm curiosidade de saber até onde o outro vai agüentar, se ele reage assim ou de outro modo", afirmou.
Transtornos
Para Scarpato, situações de tensão, como essas de realities shows "podem agravar transtornos" em uma pessoa que já tem um histórico ou tendência a depressão.
"Achei exagero o ‘Quarto Branco’ no Big Brother. Criaram uma prova com a intenção de abalar o participante emocionalmente. Como se já não bastasse o próprio confinamento, adicionaram a privação de luz natural e escuridão", declarou.
Analisando Leo como um psicólogo e espectador do BBB, Scarpato diz que o que aconteceu com o participante poderia ter ocorrido com qualquer um, incluindo os outros dois que estavam com ele. "A diferença é que ele foi o primeiro a desistir. Muita coisa deve ter passado na mente de Leonardo, mas só conseguimos analisar seu abatimento físico, por isso é difícil dizer se ele desenvolveu algo. Muito provavelmente ele deve ter tido os mesmo sintomas que um claustrofóbico tem em situações de confinamento", afirmou.
Sobre os sintomas que realities como o BBB podem desencadear, Scarpato cita "transtornos fóbicos-ansiosos, fobias específicas, reação aguda ao estresse, ou até mesmo Transtorno por Stress pós Traumático (TEPT). Mas tudo depende da pré-disposição do participante. É necessária uma avaliação mental antes de colocar pessoas em estado como esse", disse.
Além disso, Scarpato destaca que privar a pessoa da luz do dia e da noção de tempo-espaço também pode abrir brechas para algum transtorno.
"Quando pessoas resolvem morar juntas, uma microsociedade se estabelece. Regras e limites são naturalmente estabelecidos, o que, por si só, já é algo bastante complexo. Imagine se novas regras e provações forem introduzidos por alguém de fora", diz Scarpato.

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